quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Espanha #1 Cáceres


Uns dias depois de já estar instalada, chegou a altura de aproveitar a formação para começar a exploração da terra de nuestros hermanos (isto soou a episódio de filme de aventura tipo Indiana Jones... mas não é). O início estava marcado para as 16h mas decidi ir logo de manhã para estar à vontade e ainda dar umas voltas sozinha até porque era uma cidade que tinha vontade de conhecer. E continuo a ter, o tempo por lá foi pouco e já que está perto não tenho desculpa para não voltar. A manhã foi engraçada. Há lá melhor maneira de começar o dia do que decidir ir da estação de autocarros até ao centro... a pé. Já que tinha tempo lá fui eu, sem saber no que me tinha metido. Fartei-me de andar, e andar e andar... sempre nas calmas e com a velhinha eastpack às costas e a máquina na mão. Observei muito mas as fotos foram poucas porque já ia com a ideia de que teria de voltar  depois com mais tempo. Achei a cidade bastante simpática. Parece-me um local agradável para se viver e fiquei com a ideia que ser estudante universitário em Cáceres deve ser porreiro.


Episódio seguinte: fome e problema cultural. Esse foi provavelmente o único dia em que senti falta de almoçar mal o relógio bateu o meio-dia. Ainda tive esperança que o Burger King abrisse mas não, tive de fazer tempo durante uma hora para ser a primeira cliente do dia. E muita sorte tive eu porque os espanhóis gostam de almoçar à hora em que eu costumo (costumava...) já estar a pensar no lanche. Ou seja, a partir das 15h.


Seguidamente, decidi pôr-me a caminho da formação. Como? Através da melhor técnica: "Quem tem boca, vai a Roma!". Tive a sorte de encontrar uma senhora simpática e que, casualidade das casualidades, ia sair na mesma paragem. Na verdade acho que saiu uma paragem antes só para me deixar, foi um amor. Até me deu dois beijinhos! E tentou falar português porque tinha vivido em Portugal. Ou tinha andado a aprender? Já não sei, mas foi uma viagem de quinze minutos agradável. 
Chegada à escola/instituto/universidade (não cheguei a perceber o que era porque na verdade aquilo tinha ar de prisão ou manicómio), descobri que afinal podia ter almoçado lá e poupar os sete euritos do Burger King. Ah pois é, aproveito para dizer que as coisas aqui são mais caras. O ordenado mínimo também é maior, vá. Já agora, algo me diz que Espanha é a próxima a "alojar" a "menina" Troika... a ver vamos.
Descobri também que estava na altura de me deixar de vergonhas com o inglês. As três primeiras raparigas que conheci eram americanas. E a verdade é que os americanos vêm para Espanha em grandes bandos pois de cento e tal "macacos", só uns dez, no máximo quinze, é que não eram americanos. No início nem dizia nada, tal era a vergonha. Comecei a quebrar o gelo quando um americano me perguntou donde era e respondi "Alabama" com o melhor sotaque sulista que consegui. "Just kidding, I'm portuguese!" disse eu, toda contente por tê-los feito rir. A conversa tinha obviamente de continuar sobre o Mourinho e o Cristiano Ronaldo. Fui surpreendida quando apenas me lembrei de referir dois portugueses do Real Madrid e um australiano ripostou imediatamente dizendo pelo menos mais dois nomes. Viria a descobrir mais tarde, tal como o americano "do Alabama", que esse meu lapso não se deveu a falta de conhecimento futebolístico. O americano vive perto de mim e é das pessoas com quem melhor me dou aqui. Até já fomos ver o jogo da equipa da cidade... e bom, nunca me doeu tanto gastar dinheiro num bilhete para ver "futebol". Enfim, sempre em busca de novas experiências!
Pouco depois tive a oportunidade de jogar ténis de mesa pela primeira vez em Espanha. Comecei com o "pé" direito, o australiano foi um adversário à altura da minha má forma e lá me desenrasquei bem (ah, o desenrascar...).


Depois das apresentações sobre a Estremadura e sobre o cargo por parte de duas formadoras espanholas, que com o seu inglês deram origem a algumas gargalhadas (elas próprias se riam o que acabou por criar um ambiente muito descontraído), foi altura de descobrir que afinal estavam lá outras pessoas que falavam português. Uma portuguesa e dois franceses de origem portuguesa. Já estava a ficar mais confortável com o inglês mas soube estupidamente bem encontrar aquela malta. Foi sem dúvida um excelente dia para exercitar o cérebro com e nas três línguas.
Antes do jantar deu para ensinar alguma brejeirice portuguesa às curiosas americanas. Ensinei apenas o nosso "f*da-se", achei suficiente. Deu também para me aperceber que é mais fácil falar com um americano do que com uma americana. Antes desporto do que noitadas e gajos. Admito que pensei no típico estereótipo da "americana burra". Acabaria por trocar de quarto mais tarde e passar para o dos "portugueses".
Jantar na fabulosa cantina. A esperança que fosse alguma coisa de jeito ainda durou algum tempo. Vá, não foi assim tão mau e eu não sou assim tão exigente muito menos quando estamos a falar de cantinas. Uma bela tortilla espanhola, tudo bem. O que não percebi foi o prato com duas fatias de fiambre e uma de mortadela no meio. Será que era suposto comer aquilo com garfo e faca? Como boa portuguesa que sou, peguei no pão e enfiei aquilo lá para o meio. E soube que nem ginjas! Também não percebi o iogurte líquido, mas pronto. Pormenores!


Seguiu-se a voltinha nocturna. Claro que a malta não deixou escapar a oportunidade para ir conhecer um bocadinho da noite de Cáceresgrupinho, que incluiu também uma porto-riquenha, ficámo-nos por uma esplanada da parte velha (medieval e renascentista). Andei o dia todo cheia de sono mas aguentei-me corajosamente. O melhor ainda estava para vir.
O melhor da noite foi sem dúvida já dentro de quatro paredes. Estavam todos muito cansados mas ainda deu para ficar umas boas duas horas à gargalhada. O sono acabou por ceder mas fica a recordação de uma boa noite na companhia de dois fantasmas que acabaram por não nos dar o prazer da sua companhia. 
O pequeno-almoço também não foi nenhum banquete mas, uma vez mais, esta menina não foi exigente. Já a formação foi terrível. Além de dois ou três momentos de grande atenção, cheguei quase a adormecer. Tudo o que explicaram já eu sabia ou tinha feito e o sono, esse, era muito!
Uma das coisas mais importantes desta curta estadia foi o conhecer gente de todos os cantos do mundo que estão pela Estremadura a fazer o mesmo que eu. O simples acto de escutar pessoas com vivências diferentes já é estupidamente fascinante.
E, mais importante ainda, foi ter chegado muitas vezes à conclusão que isto é e será uma experiência do caraças. São tantas vezes que isto me passa pela cabeça que só posso agradecer todos os dias por esta oportunidade... e aproveitá-la ao máximo!



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