terça-feira, 8 de novembro de 2011

Da noite espanhola

Aviso desde já que este post pode ter conteúdo pouco fiável devido à "análise" provavelmente deficiente por parte de alguém pouco entendida na matéria: eu.
É evidente que com "pouco entendida" quero dizer que é muito raro sair à noite. Nem para deitar o lixo fora! Agora que já estamos no Inverno é ainda mais fácil apelar à minha preguiça que, desditosa (desditosa, a sério?), se envolve numa relação bastante calorosa com a cama, o sofá e os cobertores.
Ora bem, a noite espanhola. Das duas vezes que tive oportunidade de fazer um estudo de campo (ou melhor dito, das duas vezes que decidi tirar o rabo do sofá), pode dizer-se que fiquei com uma boa impressão. Começando pela companhia, seria normal que estando em Espanha apenas tivesse companhia de espanhóis e claro que eles estão sempre presentes. Contudo, o convívio com americanos tem sido um pouco inevitável dada a quantidade exorbitante de yankees que andam por Espanha como leitores. Não me estou a queixar, atenção! Volto a abençoar esta oportunidade já que se antes de vir tinha como objectivo sair daqui com um bom nível de espanhol, agora posso também almejar sair com um bom nível de inglês. Em Espanha... quem diria!
Da primeira vez fiquei-me por aqui para uma primeira avaliação à noite da terrinha. Por terrinha não quero dizer que isto é um desterro, volto a dizer que é até maior do que aquilo que pensava. Mas claro, não é uma Lisboa ou uma Barcelona. A noite daqui resume-se a uma avenida e duas bifurcações com alguns bares e discotecas. Como também já disse, por aqui faz-se tudo bem mais tarde. Sendo assim, se se janta por volta das dez da noite, é óbvio que sair também leva o seu tempo. Os coños costumam ficar-se pelas esplanadas a tapear, coisa que nessa noite dispensei, e ir depois até um bar/pub (até agora a única palavra da língua inglesa que dizem sem adaptações à pronúncia espanhola) até que sejam horas de ir para uma discoteca, caso seja essa a intenção. Discotecas só a partir das três da matina, mais ou menos. É isso ou pegar no carrinho e ir fazer botellón, o nosso Bairro Alto versão "quitada". Ou fazer o botellón antes da discoteca, que até deve ser a opção mais comum. Mas já lá chegarei.
Essa noite ficou-se pelo pub até às duas e pouco da matina. Tive a sorte de sair numa noite em que se deu provavelmente o único grande evento do ano. Ainda esperei um pouco para ver se apareciam jornalistas que cobrissem tão espectacular acontecimento mas, infelizmente, apenas pude ver os senhores bombeiros em acção... não querendo com isto desdenhar a trabalheira que tiveram naquela noite, longe de mim tal coisa! O que aconteceu foi muito simples. Um parvalhão qualquer lembrou-se de atirar um cigarro para uma entulheira que estava à frente dos bares. O resultado foi óbvio, nem com água nem com extintor aquilo lá foi. Além da possibilidade de presenciar tão fascinante ocorrência, ainda se deu trabalho aos bombeiros, que devem passar o dia a olhar para o boneco, e ainda deu para aquecer as mãozinhas pois nesse dia já fazia um certo frio na terra de nuestros hermanos. Quase que fiquei com vontade de imitar os espanhóis que gritavam "los bomberooooos, los bomberooooos, los bomberooooos" mas acabei por não alinhar no "mambo". E claro, houve quem fizesse fotojornalismo. Not me!


Segunda noite: Mérida no passado Sábado. Fui então fazer botellón com o suminho de laranja. À primeira vista fiquei um pouco reticente. Muitos carros, cada um com a sua música, tudo bem. Já agora, a malta jovem vive bem aqui, só grandes bombas! (Quem me ouvir diz que os jovens portugueses andam todos com Renaults 5, mas vá). Quando comecei a olhar bem pareceu-me que a maioria eram menores de idade. Ainda assim não se esteve mal, havia música, havia gente para conversar (com mais de 21 anos e não mocados, graças a Deus - ah, a discriminação). Era tirar-lhe o frio e ficava óptimo. Ninguém me mandou ficar no sofá enquanto ainda se fazia botellón em noites quentes, pois não? "Olha toma, toma que é para aprenderes Marta Sofia"*. 
Foi nessa noite que descobri que aqui as gaiatas não padecem de frio. Vai na volta e é mesmo psicológico e quem está mal, sou eu. A minha pessoa com a típica camisola de gola alta com pêlo por dentro (daquelas que a mãe compra desde os seis anos, sim, eu ainda as uso... não era preciso dizer que agora uso tamanhos maiores, pois não?), mais a camisola de lã, mais o casaco, mais o cachecol... cheia de frio... enquanto as  piquenas ostentavam, orgulhosas, as suas mini saias ou vestidos de algodão. Com quatro ou cinco graus? Porra, há que ter coragem! Ou ser-se estúpido, depende sempre da interpretação de cada um. "Olha p'ra mim que já tenho idade para sair e mostrar as pernas"*. Dor de cotovelo? Quando cheia de roupa estou a tremer de frio? Não, de todo.
Seguiu-se uma actividade (quase) igualmente rara para mim: ir a uma discoteca. Calhou-me uma de música latina, nada contra. Achei desde logo um piadão ao facto de ter todo o espaço e mais algum para me mexer. Não tinha noção que era possível ter tanto espaço numa discoteca... mas lá está, também não tenho grandes recordações que envolvam discotecas.
Depois disso já estava mais do que instalada para dormir uma sesta de meia hora no carro... até perceber que afinal estávamos a caminho de outra discoteca. "Interessante, muitooooo interessante" (já dizia um dos meus alunos das actividades de Verão). A noite parecia não acabar mas até que nem se estava nada mal! De música latina ou não, há duas músicas que passam sempre em qualquer lado: esta e esta. E claro que na segunda discoteca tinha de passar esta também. Foi com relutância que fui ouvir a primeira depois de perceber que música era. A malta andava com o "ai se eu te pego" e eu ainda a apanhar do ar, como é costume. Foi com relutância que comecei a dizer que até gostava. Agora já o digo sem qualquer problema. É catchy, não me venham com coisas. Portanto tratem de imaginar uma portuguesa a cantar isso enquanto faz a coreografia e dança samba. E imaginem a cara de três espanhóis e um americano. E cantar essa tal e a parte portuguesa da Danza Kuduro? O sentimento de orgulho por ser a única ali a saber cantar aquilo... Priceless
Antes de voltar para casa ainda deu tempo de comer uma maravilhosa bocata. E que dizer mais sobre a noite espanhola? Dependendo sempre da concepção de cada um mas partindo para o geral, pode dizer-se que os espanhóis, como bons latinos, sabem divertir-se. Aliás, acho que posso até dizer que a noite mais bem passada que tive até hoje foi em Barcelona... para quem pensa que Espanha é uma mierda só porque está mesmo ao nosso lado, deixem-se de coisas e experimentem ver com os vossos olhos que ainda por cima é mais barato e em tempos de crise há que cortar nas férias (ah, esperem, o governo também já está a tratar disso por nós...).

*E já agora, deixo duas referências culturais portuguesas. Um grande bem haja para quem já as conhece... para quem não conhece, que fique a conhecer! 

Um comentário:

  1. Antes de começar, tenho de pedir desculpas pelos erros, que sei voy cometer: O sinto!
    Alegro-me de que gostes da vida na terra vizinha e que cada vez estejas melhor entre nós.
    O comentário sobre nosso uso do "pub" trouxeme muitas lembranças. No meu pimeiro ano em Cádiz tive a sorte de partilhar alojamento con duas italianas. Um dia falvamos da mania nossa, dos espanhois, de espanholizar tudo. E elas como sabiam, também faziam para falarem num espanhol perfeito. Para provarem-me a certeza, disseram-me que um dia foram a uma geladeria e uma delas pediu um gelado de baunilha com "co-o-quis" ao que a outra lhe disse "Muito bem, disseste num espanhol perfeito". Eu tinha de olha-las com estranheza porque disseram-me O que está a acontecer? Tens a mesma cara que a geadeira. Ao que respondi, nós dissemos "cu-quis" como é que voçes dizem? Igual, "cu-quis", ups. Só podiamos rir.
    Imagino o que a geadeira teve de achar "Não veias, com os "guiris", pois não estão sempre a dizer que não falamos linguas...ao menos nós dizemos "cuquis""
    Que fariamos sem os tópicos!
    Piedad

    ResponderExcluir