quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Legendagem, dobragem e fonética

Este é um assunto com o qual por vezes me debato e se antes já o fazia, agora, estando aqui, torna-se ainda mais difícil evitá-lo. Como estudante de espanhol já me tinha apercebido da relação pouco amistosa que os nossos vizinhos travam com as línguas. E travar aqui até pode (e deve) ser usado no sentido lato da palavra.
Como jovem inocente que era, pensava que os espanhóis eram apenas preguiçosos e nacionalistas, pondo desde logo o travão na aprendizagem de outras línguas porque "sou espanhol, não quero nem preciso de saber mais nenhuma". Entretanto fui-me apercebendo que o caso era um pouco mais bicudo e que a "preguiça" deles não é nada mais do que uma fonética que não lhes facilita em nada a vida. Trocando isto por miúdos (até porque a fonética já lá vai desde o 2º ano de faculdade e não me sinto propriamente confortável a falar sobre ela), o que se passa é que os nossos amigos espanhóis têm poucos sons na sua língua. Não é por acaso que se diz que falam como escrevem. Por exemplo, no caso das vogais, oralmente os espanhóis têm apenas cinco. Vão lá ver quantas é que nós temos! "A, á, é, ê, i, ó, ô, u" e se calhar até temos mais, eu é que estou com preguiça de ir verificar. De qualquer forma, já são quase o dobro das deles. E qual é o "segredo" disto? É que com menos sons, têm muito mais dificuldade em adaptar-se a outra língua. Já nós portugueses, muito pelo contrário, apanhamos rapidamente todo o sotaque e mais algum. É evidente que somos óptimos com as línguas e se não somos melhores aí sim, é por preguiça.
Com isto, deduzo que seja daí que vem a tão famosa dobragem que "assombra" os filmes que chegam a Espanha vindos, por exemplo, da terra dos yankees. Tudo bem, até podem haver pontos positivos. Tal como pode haver na dobragem para qualquer língua. Em Portugal ainda existem analfabetos que não conseguem ler as legendas, existem pessoas mais velhas que mesmo lendo, demoram a fazê-lo. Tudo bem. Mas se a % destas pessoas é cada vez menor (e não querendo ser preconceituosa mas provavelmente uma grande parte dessas pessoas nem sequer vê filmes), que sentido faz insistir na dobragem? Não seria a legendagem mais proveitosa para o contacto com o inglês e a sua aprendizagem? Não seria mais barato? Em tempos de crise há que poupar em tudo... e se têm mais dificuldades devem esforçar-se mais e pronto! (O mundo cor-de-rosa de Marta, parte 1?). É que o facto de rejeitarem a audição pelas dificuldades com a pronúncia acaba por afectar bastante a aprendizagem. Pelo menos que começassem a legendar alguns para variar. (Confesso que, infelizmente, já não é assim tão estranho ouvir Friends em espanhol... provavelmente porque ainda não me aventurei na visualização da série em inglês, penso eu de que. Sem embargo - aprendi com o novo ministro das Finanças que afinal isto existe em português, tal como por vezes aprendo gramática com um futuro gestor (e gestor de futuro) -, continuarei a rejeitar idas ao cinema a menos que seja para ver um filme espanhol).
Os meus alunos concordam comigo, acham que se devia legendar. Mas confesso que, pelo menos na turma de básico, pareceu-me ver alguma preguiça nos olhos deles enquanto falávamos disto. Mas isso é falta de hábito, pá! Era começarem a ver no original e já não queriam outra coisa! Ou talvez não... são muitos anos disto e estamos a falar de uma pequeníssima % de espanhóis que por acaso estudam línguas... como estará a sensibilidade dos restantes sobre este tema?

3 comentários:

  1. Este debate legendagem/dobragem foi o que mais se ouviu no curso. Na minha opinião, quando se trata de filmes para crianças, sou totalmente a favor da dobragem, quanto ao resto, partilho da tua opinião: se a dificuldade em falar - em termos de pronuncia, obviamente - outras línguas já é mais do que evidente, deveria de haver uma maior aposta na legendagem para permitir o contacto com esses tais sons.
    Acho que nunca me habituaria a ouvir o George Clooney a falar espanhol :P

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  2. esta fixe e o que eu digo que e que os espanhois sao um cambada de perguicisos e cromos e nacionalista para eles, eles e que sao os bons e os melhores e a historia de portugual mostra mesmo isso que eles queriam mandar no nosso territorio
    looool penso que o que disse e verdade loool

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  3. Isto que vou escrever é só por petição da Marta. Aviso já, vai ser comprido!
    É certo que ver filmes em versão original, ainda que esteja legendado, facilita a aproximação a uma lingua, por essa ração tenho o costume de tirar livros ou vídeos da biblioteca da escola de linguas. Mais quando vou ao cinema o que quero é mergulhar-me no filme e ter de ler não o permite, ao ter de ler estamos mais atentos do texto que do momento que o realizador criou para nós. Ao fim de contas, o ojetivo dum filme não é ensinar uma lingua, senão entreter, denunciar o fazer pensar e para isso, ten de chegar á maior quantidade de pessoas possível. Não acredito na cultura, no arte para uns poucos e este e um arte que contem todos os outros. Sim, sou uma apaixonada do cinema e poucas vezes sou tão feliz como numa sala de cinema, vindo o bom filme e por isso, agradeço, imensamente, aos atores de drobagem que fazem um trabalho interpretativo e ténico para ser tão bom como é. A quem ache que não estou certa ou que sou egoísta mas quen queira ver filmes en versão original pode ir a cinemas duplos, procurar na Internet ou tirar das bibliotecas.
    Que certo é o prejuízo que nos tem feito a economia da lingua! É certo, certíssimo que a limitação nos sons, faz mais difícil falar bem uma lingua, mas se esse é o nosso problema por quê os ingleses e franceses (entre outros), tem o mesmo problema do que nós? porquê os latinoamericanos não? Há uma tese que diz que os paises como um grande número de falantes não tem pressão para aprender outras linguas. Além disso, no entanto os portugueses tinham boas relacões com os ingleses; ingleses, franceses espanhois estavamos a lutar e para matar e insultar não é preciso falar linguas, ainda que acho que tem de ver é só uma troça. Também temos de lembrar que certo tempo da história o mundo falva en espanhol, igual que agora se precisa do inglés, mais não por que houvesse muitas colonias pelo mundo senão por que tivemos uma grande escola de tradução. Alfonso X, preocupou-se muito pela cultura e o conhecimento e fez traduzir obras do latín e de outras linguas para aproxima-las ao povo e daquí foram pela Europa de convento em convento. São estas coisinhas as que fizeram que não tenhamos costume de aprender linguas, não está nossa "memória coletiva". Mais isso junto como a falta de sons e outras coisinhas só são problemas circunstânciais. O nosso maior problema é a frustração, frustração pelos anos de estudo duma lingua que não conseguimos falar por que o sistema estava errado, aulas de inglés em espanhol!!Agora as coisas estão a mudar, devagarinho mas mudam, os meninos estudam linguas desde os três anos, há turmas na secundaria bilingues, bolsas para cursos o estrangeiro e as escolas de linguas estão cheias, sem vagas. Nunca foi falta de interesse pelo mundo, somos un povo curioso, nunca foi falta de respeito pelos outros somos un povo aberto, nem é preguiça o que sim somos é teimosos e temos-nos proposto falar outras linguas e a pesar de nossos pormenores vamos conseguir mudar as estadísticas, que ninguém duvide!
    E já chega, já!
    MPM

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