sexta-feira, 18 de novembro de 2011

A ignorância dos nossos universitários?


E que dizer sobre isto que não tenha sido já dito? Visto que tento estar sempre a par do que se passa em Portugal (como se estivesse muito longe e fosse dificílimo fazê-lo...), não podia deixar de escrever umas linhas sobre esta polémica reportagem.
Começo com um conselho: caros portugueses, pelo amor da santa, façam o favor de não se apoquentar demasiado com um vídeo de quatro minutos que o país já vai mal que chegue para se andarem a martirizar com mais uma coisa. E não quero com isto estar a meter paninhos quentes no assunto, atenção.
Passarei então a partilhar alguma da minha reflexão/divagação.


O país está em crise. Engane-se quem pensa que se trata apenas de uma crise económica e financeira. Portugal cresce 1%, ou menos, há cerca de 12 anos. E portanto, como já muita gente vem dizendo, a crise não é de agora e talvez tenha começado com os valores das pessoas (neste caso, com a falta deles). Nesta mimalhice com que habituaram os meninos. Mimalhice que até se percebe já que saídas de tempos difíceis, é normal que se há possibilidade para isso as pessoas tentem dar aos filhos e netos aquilo que não puderam ter. O problema é que se descurou do resto. É chato poder escrever tanto mas "não poder", este post dava uma tese de doutoramento.
Crise de valores provavelmente significa apenas que os valores estão a mudar, o mundo nunca poderá ficar intacto e preso numa época... pelo menos não durante muito tempo. Os pais e os avós não bebiam? Não fumavam as suas "coisinhas"? Agora tornou-se mais frequente e precoce, quiçá um dia não se torna praticamente "embrionário" (não andam por aí a circular vídeos de gaiatos a fumar aos 3 anos de idade?). Antes os meninos levavam reguadas e umas boas lambadas dos professores. Agora são os meninos que batem nos professores, pronto. Aceitemos então o homo technologicus (é assim que nos chamam, não é?), com tudo aquilo que acarreta. Ou faz de conta, pelo menos no meu caso... aceito mudanças, por muito que não concorde com elas e por muito que não goste (ai, o quanto venerei a minha infância), não aceito é faltas de respeito e de educação. É que aí tenho ideia que os valores não mudam... ou não deveriam mudar. E quanto ao argumento de que antes de certeza que já existiam casos de falta de educação ou mesmo violência contra os professores mas que agora se divulga mais e pronto (ah, as maravilhas da informação rápida), não me venham com coisas, que não pode ser assim tão linear. Todos tivemos as nossas traquinices mas, que eu saiba, a minha geração não faltava ao respeito dentro de uma sala de aula. O meu irmão de 31 anos deve poder confirmá-lo.
Já discuti um pouco a questão do vídeo e aproveitei uma vez mais para bater um pouco mais na nossa Educação. Esperei melhorias pela mão do Nuno Crato mas na situação em que estamos não é fácil, muito menos quando parte dos cortes que se vão fazendo são, precisamente, na Educação. É claro que não posso culpá-la só a ela pela falta de cultura geral de certas pessoas da minha idade. Mas também não me venham dizer que a Educação pode sair disto com carta branca. Não me venham dizer que uma das grandes responsáveis pela formação destas pessoas não tem nada a ver com o assunto. Muito menos me venham dizer que estamos perante um Ensino que desperta muitíssimo a curiosidade e criatividade dos nossos alunos. 
Estudei praticamente toda a minha vida, já passei pelo ensino universitário. E, com muita pena minha, nem esse puxa como deveria pelos seus queridos alunos (que ali estão para pagar propinas, que isso é que interessa... vamos lá cortar em tudo o que podemos e não podemos, menos nas vagas e nas más condições... vamos lá apostar cada vez menos nos meninos). Obviamente que (felizmente) tudo tem as suas excepções, e no meu caso não andei três anos a fazer de tábua rasa (porque também não quis, há muito boa gente que faz dessa a sua principal actividade universitária). Na faculdade vi diferenças, claro que vi. Mas ainda é possível acabar um curso universitário com trabalhos feitos pelo wikipédia. E o wikipédia não é um bicho papão, cuidado com isso! O bicho papão são os plágios que se vêem por parte de pessoas que fazem de suas as ideias de outros sem sequer uma breve referência ao pobre coitado que se lembrou de pensar naquilo primeiro ("para quê a referência se eu concordo plenamente com isto e parece mesmo que fui eu a pensar, han?"). Pessoas que preferem ser exímias na arte de plagiar ou cabular em vez de estudarem, o que provavelmente até demoraria o mesmo tempo a menos que, cúmulo dos cúmulos, nem sequer isso se dediquem a fazer porque há sempre alguém que o faz e partilha. É possível acabar um curso universitário sem perceber realmente o que se estudou porque o grande objectivo parece ser fazer copy paste daquilo que se "aprende" e 'tá. Para quê compreender e formar pessoas interessadas se basta pô-las a reproduzir? Tão bem me lembro quando decorava todos os meus apontamentos, incluindo as cores com que escrevia em cada página. (Felizmente, acordei!). Há quase dez anos ainda dava para isso, (in?)felizmente já não tenho capacidade para tal coisa porque já armazenei demasiado (convencida do caraças a cachopa...) e já sou obrigada a filtrar. (A chanceler alemã é a Angela Merkel, pá! Nem com aquele cabelo lindíssimo são capazes de memorizar o nome da senhora?!).
Uma pessoa não é formada só pela escola, a sua cultura geral não é obrigatoriamente criada pela e na escola. É formada pela família, pelos amigos (que provavelmente também estudaram nas mesmas escolas ou, pelo menos, em Portugal... nem que seja só até certa altura, isto já pensando nas variadas hipóteses que podem incluir vivência no estrangeiro, por exemplo), pelas experiências que vive, pelo seu próprio interior. Não se pode culpar só o Ensino, eu sei que não. Como explicar, caros amigos psicólogos/sociólogos/antropólogos/qualquer coisa acabada em "ólogos", que um filho de pessoas minimamente cultas e com estudos, que lhe ofereceram toda a possibilidade de seguir um bom caminho (de acordo com aquilo que a sociedade aceita como "bom"), opte pela delinquência? Ou que um filho de agricultores do qual não se espera que continue a estudar opte por seguir os estudos e em cultivar-se constantemente (bom trocadilho...)? Como explicar que dois filhos educados da mesma maneira optem por caminhos totalmente diferentes no que toca, já agora, à delinquência? Ou simplesmente à curiosidade (ou falta dela)? Coloquem tudo isto numa equação e desafio também os amigos matemáticos e físicos a tentarem resolvê-la. Uma só pessoa pode ser alvo de tanto estudo (e por parte de tantas pessoas) que nem as sete vidas dos gatos devem chegar para compreendê-la por inteiro. Podemos sempre simplificar e pronto, "olha a Maria meteu-se na droga porque tinha falta de atenção dos pais e porque se dava com delinquentes" enquanto que "o Manel, irmão da Maria, é ortopedista porque tinha falta de atenção dos pais e em vez de sair ficava em casa a estudar". Simples, não é? 
E isto para dizer o quê? Deixai-vos de generalizações! Principalmente quando se tratam de reportagens que, visivelmente, têm como intenção ridicularizar e fazer rir quem as vê. Reportagens feitas a cem pessoas, dez perguntas a cada pessoa, o que faz mil perguntas (ai jasus, será que estou a fazer bem as contas ou já me esqueci da matemática?), mas apenas mostram 20 respostas. Quem nos diz que as outras 980 não estavam certas? Também não digo que TODOS os nossos universitários sejam extremamente cultos. Meio-termo, minha gente... meio-termo. Eu sei quem é o actor do "Padrinho" e em quem os filmes se inspiraram. Mas ainda não vi os filmes, pá! Am I dumb? Sou, mas só por ainda não ter visto os filmes. A maior parte dos clássicos continuam à minha espera, por decisão minha.
A Educação não está famosa. Os nossos alunos não são todos cultos, muitos percebem (e é quando percebem) apenas e somente da sua área de estudo. Mas também não são todos burros como o vídeo quer fazer parecer. A reportagem não é bonita, não senhor. Quem respondeu já devia ter noção que as perguntas iriam ser usadas para este tipo de coisas. (Por isso é que eu fujo das câmeras, em casa é sempre fácil responder a tudo mas pressionar a minha querida memória assim, em plena rua, e sabendo que posso aparecer na televisão? Deus qui mi livri!). Se o rapaz do ISPA faz bem em processar a Sábado? Talvez, não sei. Podiam ter-lhe dito que o objectivo era gozar com ele caso respondesse mal, pá... que falta de chá! O menino que guarde o seu conhecimento sobre a Capela Sistina para ele e que se deixe de coisas que ninguém quer saber quem ele é, nem se é ignorante, nem se estuda no ISPA... eu pelo menos não quero, me da igual! E com isto não estou a defender a Sábado. Se o melhor médico do país não souber quem é o Eça de Queirós, é bonito? Não. É uma escolha individual e não poderemos andar atrás das pessoas para que saibam mais do que aquilo que sabem. Mas que é triste, é.
Não sendo a favor das generalizações, admito que acho as americanas burras... ainda para mais quando um americano mo confirma. Mas não estaria a ser justa se as achasse a todas burras. Conheço umas poucas, visualizo uns vídeos no YouTube (e esta, hein?)... mas não conheço as 150 milhões de americanas que existem à face da terra (se não forem cinco milhões, há-de andar por aí...). Vídeos assim existem em todo o lado, tal como existem outro tipo de coisas* igualmente preocupantes (ou quase) entre os nossos jovens universitários (e não só). Nem tudo é mau como se pinta, descansem... e leiam... vejam filmes... ouçam música... vão à Capela Sistina e ao Louvre... etc, etc, etc.

*Coisas como isto e isto e, também, um exemplo da burrice fora de Portugal (raios partam algumas loiras, pá).


Para quem tem sempre preguiça de escrever e medo de não escrever nada (não falo a nível de conteúdo que quanto a isso nunca tenho a certeza se é bom ou não), isto até costuma correr bem.

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