segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Estremoz e Vila Viçosa

Tal é a qualidade desta experiência que até tenho a oportunidade de conhecer o meu próprio país. Ele há coisas do caraças! Portanto no Sábado, bem cedinho, lá fui eu para mais um passeio, desta vez inserida numa bela excursão com alguns dos meus alunos e a colega americana que, com muito orgulho meu, ficou a conhecer um pouco de Portugal.
A relação aluno-professor é bastante curiosa. E estar no papel do professor depois de tantos anos como aluna, ainda mais. (Na verdade continuo como aluna por causa do francês, mas bom...)
Há vários tipos de alunos. Os que nem sequer sabem que o professor existe, os que falam na aula só e apenas se for impossível escapar e têm uma espécie de medo de um contacto mais directo, os "graxistas" e, nos quais me incluo eu, os que são demasiado curiosos para não tentarem falar mais com o professor fora das aulas. Isto tudo dependendo também da "abertura" do professor ou, simplesmente, da maneira como os alunos vêem essa "abertura". ("Olha ela a inventar um grupo só para não se incluir nos graxistas"... por acaso não, sou curiosa e ponto final.)
Esta relação aluno-professor foi a primeira coisa em que reparei quando cheguei à escola. Quando me apresentei, propus desde logo que me fizessem as perguntas que quisessem pois estava realmente disposta a responder. Não temi propriamente o que poderia surgir pois sabia perfeitamente que entre adultos não haveriam as típicas perguntas à teenager como o "tens namorado?" ou outro tipo de coisas. No geral, quase todos foram tímidos. Houve apenas uma turma (em quatro) que começou a disparar perguntas como se não houvesse amanhã, o que me deixou bastante contente e nada intimidada. De que parte de Portugal era, onde e o que tinha estudado, se tinha irmãos, o normal. Nos primeiros dias houve desde logo alunos que se dirigiram a mim depois das aulas, o tipo de coisa que eu faço! E que graxa me poderiam querer dar se não sou eu que os vou avaliar? Surgiu desde logo a ideia de combinar um café por semana para que praticassem um pouco mais comigo. O convívio tem lugar às terças, já há cerca de um mês, e tem corrido lindamente.
Raio da miúda, mete-me "Estremoz e Vila Viçosa" no título e agora põe-se a dissertar sobre isto por alma de quem? Quis introduzir assim a fantástica excursão de Sábado pelo simples facto de ter tido oportunidade de estar todo o dia a analisar um pouco mais toda esta relação.
Da viagem em si, não há muito para contar. Como disse o Jacques, o jefe de estudios de português, o grande interesse era o convívio e não a visita em si. Do bem que me senti com toda a convivência com os alunos (e com a americana) podia "falar" a noite toda.
À hora de sentar para a partida, uma aluna "puxou-me" desde logo para o assento ao seu lado para que pudéssemos passar um agradável bocado à conversa. À chegada a Estremoz, o belo do galão com o pastel de nata (especialidade da casa).


Depois, fazer tempo por Estremoz até ao almoço só porque sim. Havia para lá um mercado porreirito de velharias e coisas típicas (o queijo e vinho alentejanos, por exemplo) que alguns dos alunos aproveitaram, principalmente para comprar livros. Eu nunca compro nada que sou forreta. Bem andei à procura de botas mas eram todas demasiado caras. Acabei por entrar num museu que parecia grande por fora mas que não tinha muito para ver além de religiosidades e uma vista porreira sobre a vila. Foi ainda em Estremoz que surgiu uma proposta de uma aluna para que venha a colaborar num projecto da escola em que lecciona. Não percebi bem para que era mas ofereci-me prontamente para ajudar. Espero ter alguma espécie de reunião em breve para que possa compreender o objectivo do projecto mas tenho ideia que é para que os alunos se comecem a interessar mais pela aprendizagem das línguas. 
O almoço em Vila Viçosa foi um espectáculo. Uma das alunas também me "puxou" logo para a mesa dela e lá fomos falando animadíssimas enquanto nos deliciávamos com o belo manjar com que nos presentearam. Sopa, carne de porco alentejana, batatas assadas, doce da casa. Saí de lá que nem um texugo e estava boa era para dormir a sesta (a alentejana ou a espanhola, naquela altura qualquer uma marchava). Prometi ao senhor que atendeu a minha mesa (um querido!) que um dia levaria lá a mãe por ter gostado muito do restaurante... e também da vila, depois de uma caminhada até ao Palácio. Foi engraçado terem perguntado por duas ou três vezes se falava muito bem ou se era portuguesa. Imagino o que terão pensado quando disse que era a leitora/"professora" daquela malta. Quem sabe um dia deixo de parecer ter 16 anos! (Continuo a insistir tanto nesta história que um dia ainda sou castigada por alguma entidade divina...).


O Palácio de Vila Viçosa é outro sítio que vale a pena visitar. Não pude estar com toda a atenção que desejaria por ser muita gente e por preferir dar espaço aos alunos que têm mais dificuldade em perceber ao longe (ainda para mais o senhor não falava muito alto - a não ser quando era para chamar os que estavam para trás pois provavelmente tinha pressa e medo que andassem a tirar fotografias - e tinha um sotaque alentejano que pode ter causado problemas... a ver se me lembro de confirmar isto com os alunos). Durante a visita guiada, eu própria fui tentando fazer de guia da americana pois também não a queria deixar sozinha a apanhar seca (ai que saudades dos meus meninos da Viajar...). Pareceu-me que ela achou interessante saber um pouco sobre a nossa história mais recente... ou então achou uma porcaria mas achou por bem ser simpática, I'll never know.


E é isto. Aquilo que realmente queria destacar com este post é a tal relação aluno-professor que cada vez me fascina mais por poder estar a experimentar este novo lado. Fico deliciada por me procurarem, por terem tanto interesse em saber mais e em praticar. E claro, deleito-me sempre que posso partilhar o que sei. Admito que nesses momentos me sinto lindamente como professora. Mas, até agora, a ideia de não seguir esse caminho continua fixa.

Um comentário:

  1. Foi um dia perfeito! Conhecemos un bocadinho mais aos colegas e Portugal! Temos de voltar a fazer!
    MPM

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